sexta-feira, 25 de abril de 2014

O adeus programado

Meu amado Fred,
Esse feixe teimoso de luz que entrou sorrateiro pela janela tomou minha alma, dominou a calma e solucei. Estava só naquela cama desarrumada, que há tempos não sentia o calor do meu corpo. Debrucei minhas dores na janela, esperando que você, apenas de relance, como uma visão ou sonho bom, tomasse os medos que me comandam e voltasse a mim. São tolices de uma amante egoísta, que não tolera repartir o objeto de adoração. Estou em êxtase. Não consigo explicar o que é isso tudo que aflora em meu âmago, tampouco sei lidar com as consequências. Entenda, meu amado, tive que partir. Essa foi a decisão mais sensata que já consegui tomar desde que cruzamos nossos caminhos, desde que seu espaço tornou-se o meu.

Entenda: precisei ir para que pudesse ficar.

O crepúsculo domará as dores e o vazio. Já não somos os mesmos, não somos. Tornamo-nos eu e você, singulares, como quando trocamos os primeiros olhares honestos. Os melhores momentos calados na primeira tempestade. Ventos uivaram forte, arrombaram as janelas e o frio se apegou ao nosso aconchego. Tudo ficou incômodo, comum, um. Não cabem dois nesse amor.

Sei que um dia vai me entender e verá que o adeus não é tão amargo, se provado junto com um copo de whisky.

Com amor,

Anna.

(Viviam Baddini)

Um comentário:

MP disse...

Eigentlich ist alles ok!