segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

E ser adulto estava ali, naquele dobrar de esquina

Crescer deveria ser uma opção. Um cartaz, um aviso, até mesmo uma placa de contramão. Pelo menos, deliberadamente, você poderia optar por um outro caminho, o avesso. Ser diferente! Os planos, as contas, os casos. Quem paga por tudo isso? O peso da vida é aquilo que decidimos enfiar na bagagem, engolir a seco, escarrar pela estrada. Uma foto nua, um vil amante, a porta entreaberta, a luz acesa. Quando as cortinas fecham, os olhares desviam, as chamas se apagam, corpos se separam.

Ao menor estalar de dedos, num piscar de olhos, tudo muda: o rumo, os olhares, as raízes. Deixa-se de ser filho, para tonar-se pai; deixa-se de ter apoio, para ser apoio. E todas as escolhas carregam o peso do exemplo. Os apegos, as cobranças e desejos brotam novamente, em outro caule, com outro viés. Ser adulto estava ali, tão perto, depois daquela rua, oculto em um beco, pronto para te assaltar e roubar tudo o que cultivara até aquele momento; quão inocente eu seria, por pensar que jamais precisaria crescer?

(Viviam Baddini)

Um comentário:

Anônimo disse...

Lucidez é um acesso de loucura ao contrário.