Olho para essas paredes cinzas. Esse desespero me afoga nesta carcaça do que já fui. Sem eira ou horizonte, essa trilha feita sob encomenda, na medida do meu sonho. Não deveriam existir limites, afinal, para os sonhos. São pensamentos livres de toda rotina, todo sofrimento, descontentamento. Mas veja essas barreiras multicoloridas que essas injeções de felicidade nos levam a idealizar. Presa porque quero, porque anseio estar assim, inútil, feito boneca inflável depois de um furo.
Esqueço que meu esqueleto não é a prova de balas. Não são feridas externas que me afligem, não é a morte que me desola, é essa vida em meio ao caos, à desordem do que deveria ser, mas não é. Deveria? Gostaria de saber quem decidiu assim. As minhas memórias são falhas e não trago na lembrança um desejo tão sombrio e obscuro de ser infeliz, de propósito, porque a covardia de seguir em frente acorrenta os pés no concreto desta imensidão vazia, oca, sem o eco do que faz lembrar o que é certo, o que é real.
Fixo nesses buracos, procuro um reboco ou uma forma de preencher o que ficou para trás, desistindo de dar passos adiante. Não sinto ser merecedora de tal destino chamado futuro. O passado é a melhor marca daquilo que devo ser. Vir a este mundo sem querer não é o que faz minha alma refém do que pode existir além desta marca, é o medo de enfrentar o incerto, as lombadas e curvas sinuosas, feitas para a perdição, extintas de qualquer vestimenta que possa parecer singela: nuas!
Sem sentido ou fingimento, sigo a vida.
Realidade é melhor se sentida em todos os cacos e cicatrizes. Revirar o passado é como mexer em casca de ferida. A presença incomoda, mas é dolorido tentar tirar antes do tempo. Sai mais fácil depois de cicatrizado...
(Viviam Baddini)
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