Afago os braços, gelados como o coração. Procuro incessantemente por seus braços, sua acolhida, seu calor. Pra onde foi o sentimento, a volúpia? Somos dois, mas sinto-me um. Claro como água cristalina, imaculada, enxergava a nós em seu olhar. O brilho único que iluminava os dias mais escuros. Apagou-se. Escuridão nos envolve, nos governa. Nós. Já não temos laços que nos seguram. Somos errantes, caminhando a esmo, procurando caminhos em comum, por estradas distintas. Vi, de longe, seu semblante sereno em busca de abrigo. “Um pouco de paixão”, implorei em um grito mudo que minha boca foi incapaz de sussurrar.
Seus olhos, galante traiçoeiro, são frutos de minha perdição. Capazes de ludibriar meus instintos, fomentar a ilusão, desgastar o que resta inteiro. Estou em pedaços, destroçada por seu sentimento (a falta dele). Abrigou-se em mim, mas não me permitiu fazer de ti morada. Sem teto, desacompanhada. Solidão a dois. Viver pela metade. Morte anunciada em vida. Os risos esconderam-se para dar passagem ao pranto. Incessante, incólume. Assim é essa vontade de nós, nós refeitos, feitos de aço, feitos para durar, como se a eternidade fosse possível, como se o “para sempre” não fosse só em contos de fada.
(Viviam Baddini)
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